quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Cap. 13 (Escrito por Pedro Castelo)

O trabalho feito até ali parecia não fazer sentido. O esforço não tinha levado a nada. Apenas a perceber que o que parecia estar resolvido, voltava à estaca zero. Aquele a quem tudo apontava como o homicida, estava a recuperar no hospital universitário, embora lentamente. O professor estava agora fora de perigo e tinha já acordado de um coma profundo, depois de alguns dias neste estado quase vegetativo. Os médicos diziam que tinha sido milagre.
Mas o que fazer agora? Por onde continuar a investigação? Não havia corpo onde se pudesse continuar a procurar pistas, se é que ainda fosse possível obtê-las e não se sabia a quem recorrer para fazer novas perguntas.
Coimbra soube rapidamente que o caso não estava concluído, estando outra vez a casa de D. Isaura sobre o olhar atento das autoridades, mas, como se sabe, até na polícia havia interesses de que a casa não fechasse definitivamente, ou por outras palavras, que as mulheres que lá trabalhavam não falassem demais. As putas continuavam a trabalhar, recebendo clientes todas as noites e a aturar estudantes ricos e mimados sem experiência sexual. Mas cada vez com mais medo. Medo de serem estripadas da forma brutal que as suas colegas haviam sido. Atendiam cada cliente com muito cuidado e muita cautela.
Quem também tinha cada vez mais medo era Mário. Continuava sem saber por quem tinha sido sequestrado, procurando estar sempre à espera de voltar a apanhar um valente susto e até possivelmente estar em risco iminente de morte. Mário tinha a completa consciência disso.
Um dos seus colegas do curso, aquele a quem Mário mais confiava e que era o seu confidente e companheiro de grandes noitadas de álcool, percebeu a perturbação em que ele vivia, sabendo que a sua agonia estava relacionada com o caso dos dois assassinatos.
António Mendonça acompanhava o seu colega para todo o lado e agora que a época de exames tinha acabado, tinham mais tempo um para o outro.
- Que tens? Não paras de olhar para a rua! – perguntou ao sabor de um belo vinho do Porto.
- Sinto-me cada vez mais asfixiado. Parece que há alguém atrás de mim. Penso que estou a ser perseguido. Não sentiste que vieram dois homens sempre atrás de nós desde a Faculdade até aqui?
- Não, não reparei!
- Sim, estou a ser seguido mas não consigo saber quem é, nem o que quer de mim. -retorquiu Mário.
Um silêncio constrangedor abateu-se sobre António que se apercebeu naquele momento da possível gravidade da situação.
A curiosidade assaltou-o: - Mas o que é que tu podes saber de assim tão grave que faça alguém andar a seguir-te?
- Fui o primeiro a ter contacto com o corpo e vi-o a ser transportado pelo Professor e pela D. Isaura.
- Estás então a pensar que podem estar a desconfiar de ti?
- Não. O facto de ter sido o primeiro a ter contacto com os restos mortais de Adelaide pode servir de limpeza de culpa de alguém, que esse mesmo quer transferir para mim. O verdadeiro assassino está a tentar safar-se da sua responsabilidade. Quer aproveitar o facto de eu ter sido também o primeiro a dar o alarme que Adelaide estava morta e que assim me estou a tentar livrar de uma culpa que não tenho Querem que eu assuma a verdadeira responsabilidade do assassinato.
- Mas que tencionas fazer?
-Não sei. Estou de pés e mãos atadas.
Nisto pagam o seu vinho e saem do habitual estabelecimento já com álcool a circular no sangue.
Dirigem-se à sua república.
Os homens que os seguiam voltaram a atacar, tendo esperado sorrateiramente pela sua saída. Os dois amigos sentiram-se ameaçados e ao passarem pela igreja entraram como forma de escape.
António fintou os dois homens e saiu por uma porta lateral.
Mário tentou matar dois coelhos com uma cajadada: aproveitava para se confessar e pedir ajuda.
Entrou no confessionário, ajoelhou-se e disse – Senhor Padre pequei e quero o perdão da Igreja!
Ainda encadeado pelo sol intenso do exterior, não viu que aquele que seria o seu confessor estava em contacto directo com a sua face, não tendo nada a atrapalhar se quisesse chegar ao contacto físico. Mário não o conseguiu identificar. Levou um murro valente na cara, batendo com a cabeça na parede do seu lado do confessionário e ficou inconsciente.